domingo, 22 de janeiro de 2017

Artigo: “2017: O Brasil em viés de baixa”. Por Cynara Menezes

Um ano atrás, nesta mesma época, ao desejar aos leitores um “feliz ano novo”, imaginei, pensando de forma otimista, que 2016 pudesse ser o ano em que afinal sairíamos da “deprê”. Nossa, nunca errei tanto. O ano de 2016 conseguiu ser pior do que 2015. Nem me arrisco a pensar o que será de 2017.
O Brasil entrou inegavelmente num viés de baixa desde que a direita, ops, o gigante acordou, em 2013. Depois disso, perdemos até de 7 a 1 para a Alemanha... Mas, ao contrário de muitos esquerdistas, não culpo os manifestantes de junho pela escalada fascista que se seguiu àquela jornada. É preciso reconstituir os fatos para entender o que se passou desde então. Os protestos de junho de 2013 começaram com a ameaça de aumento da tarifa de ônibus em São Paulo. Foram ampliados com a adesão de parte da esquerda, insatisfeita com os rumos do governo Dilma e com as promessas não cumpridas pelo PT, que decidiu se juntar à turma do MPL (Movimento Passe Livre). Até este momento, é bom lembrar, a mídia hegemônica era contra e atacou as manifestações. Foi só quando viu que os protestos, originalmente de esquerda, tinham potencial para atrair setores da classe média contra o governo petista (como de verdade atraíram), é que a mídia passou a apoiá-los abertamente. De “vândalos”, como os manifestantes eram chamados na primeira fase, passaram a ser “patriotas”. Quando estes “patriotas”, vestidos de verde e amarelo, começaram a tomar as ruas, a esquerda se recolheu.
Mas já era tarde: o troll fascista, nacionalista, racista e misógino perdera o pudor de mostrar sua face monstruosa. A partir dali, se organizaram em bandos, financiados por partidos de direita e sabe-se lá mais por quem. Suas marchas, sempre hostis aos esquerdistas, são como hordas de fantasmas redivivos do macarthismo, tantos anos após o final da Guerra Fria. São estes zumbis anticomunistas que volta e meia retornam às ruas, puxando o astral do Brasil cada vez mais para baixo. O papel dos justiceiros da Lava Jato foi, neste aspecto, nefasto. Toda uma aura religiosa, de seita, cerca os procuradores, que a alimentam sem reservas. Deltan Dalagnoll, aquele do PowerPoint de Lula, apareceu de joelhos na igreja batista; o juiz Sergio Moro posou, todo enfatiotado, sendo premiado pela maçonaria. Não há como não relacionar tais visões a épocas medievais e à própria Inquisição. Há até calabouços onde as pessoas “confessam”.
Ninguém questiona operações contra a corrupção. Pelo contrário, elas são bem-vindas. Mas, como a Lava Jato, ao que tudo indica, busca atingir apenas petistas – os novos “hereges” desta caça às bruxas –, o caráter seletivo da operação acaba tendo um efeito colateral perverso, o de gerar uma onda de fascismo em certos setores. Ou será que foi proposital e não colateral?
O fato é que, aliados, mídia e Lava Jato agem no sentido de manter o tal “gigante” eternamente acordado e disposto a esmagar os vermelhos, como é da natureza dos fascistas. Com o tempo, porém, ficou claro que a imprensa burguesa perdeu o controle dos fascistas que alimentaram. Cría cuervos y te sacarán los ojos: não é à toa que a rede Globo foi derrotada em seu próprio reino por um fundamentalista religioso nas eleições de outubro. Enquanto a Lava Jato caça corruptos seletivamente, os resultados para o País estão longe de compensarem o estrago em uma das maiores empresas de petróleo do mundo. A Petrobras recebeu de volta R$ 661 milhões da Lava Jato, mas teve um prejuízo de quase R$ 35 bilhões apenas no ano passado, o maior de sua história. Acabar com a corrupção dentro da empresa é uma coisa; acabar com a empresa, patrimônio do povo brasileiro, é outra. A não ser que queiram vendê-la, não é mesmo?
Desde que Dilma foi arrancada do cargo, em agosto, o País só piorou. Aumentou o desemprego, começaram a lotear o Pré-sal, comprometeram o futuro da saúde e da educação, ameaçam os direitos trabalhistas. A corrupção continua lá, inclusive envolvendo o presidente ilegítimo Michel Temer e seus ministros. O País, que nos últimos anos ganhara respeito internacional, está cada vez mais no fundo do poço, real e espiritualmente. É impressionante: onde a direita chega, a “deprê” vem junto. O ano de 2017 começa com um bufão reacionário na presidência do País mais poderoso do planeta e com a possibilidade de outros como ele chegarem ao poder, como Marine Le Pen na França.

A escalada fascista assusta os progressistas em toda parte, prenunciando um repugnante revival do clima pré-Segunda Guerra Mundial. Como ser otimista num momento destes? Nossa obrigação, como cidadãos progressistas, é continuar alertando a sociedade destes perigos. Mesmo com as redes sociais (ou talvez por conta delas) a população parece cada vez menos informada sobre o que realmente está em jogo. O ano de 2017 será, sem dúvida, um ano de muita luta para a esquerda. E não garanto a vocês que será o último. Não é preciso ser vidente para perceber quando nuvens pesadas se avizinham. No mais, um recado: curtam mais suas famílias, seus amigos, aproveitem as horas livres, celebrem a natureza. Saiam mais da internet, desintoxiquem-se. Não é ficando on-line 24 horas por dia que iremos conseguir um Brasil melhor. Podemos começar sendo mais atentos com nossas próprias vidas e com quem amamos. Um bom ano a todos.

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