domingo, 10 de julho de 2016

Jornada de 80 horas para os "coxinhas". Por Eduardo Guimarães

O lado obscuro da alma do blogueiro sente uma satisfação mórbida quando se materializam desgraças que os que sabiam que o golpe era golpe avisaram que sobreviriam. Apesar de que estar certo, nesse caso, significa que você também vai se dar mal, é analgésico saber que as hordas de imbecis que se fantasiaram com camisetas amarelas também pagarão alto preço.
Claro que muitos dos fascistas que inundaram as ruas pedindo golpe contra Dilma Rousseff serão, sim, beneficiados por medidas contra os trabalhadores que decorrerão da derrubada do governo eleito em 2014. São os que têm motivos para apoiar o golpe por serem beneficiários de medidas contra trabalhadores que o golpista Michel Temer já anunciou que tomará.
Porém, quase todos os camisas-amarelas que ajudaram a jogar o Brasil nesse buraco vão se dar tão mal quanto quem não queria o golpe, porque a quase totalidade dessas hordas de descerebrados é empregada de alguém, por mais que ocupe cargos mais altos nas empresas.
Os camisas-amarelas ajudaram a colocar no poder um grupo político identificado com grandes empresários que têm forte interesse na piora das condições de trabalho dos assalariados. Essa gente começou a se animar a pregar suas sandices durante o ano eleitoral de 2014.
Benjamin Steinbruch, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diretor-presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e do Grupo Vicunha, participou do programa de web TV Poder e Política, da Folha e do “UOL”, conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 25.set.2014 no estúdio do UOL em São Paulo.
Para resumir as loucuras que aquele sujeito pregou, basta um trecho de sua entrevista:
Fernando Rodrigues – O problema do custo do empregado para o empregador está relacionado diretamente aos direitos que os empregados têm. Como é possível reduzir o valor que se paga para ter empregado sem reduzir os direitos que lhe tem hoje?
Benjamin Steinbruch – Por exemplo, se você vai hoje em uma empresa nos Estados Unidos, aqui a gente tem uma hora de almoço, normalmente não precisa de uma hora do almoço, porque o cara não almoça em uma hora. Você vai nos Estados Unidos você vê o cara almoçando com a mão esquerda e operando… comendo o sanduíche com a mão esquerda e operando a máquina com a direita, e tem 15 minutos para o almoço, entendeu? E eu acho que se o empregado se sente confortável em poder, eventualmente, diminuir esse tempo, porque a lei obriga que tenha que ter esse tempo?
É óbvio que isso não existe. Não é desse jeito que acontece. E mesmo que fosse verdade, nos EUA a jornada de trabalho é menor e os salários são muito maiores. Mas, como o leitor irá conferir adiante, esses dementes dessas entidades ligadas à indústria pegam uma exceção em países ricos que oferecem excelentes condições de trabalho e a transformam em regra
Em cerca das mais de duas horas de reunião na última sexta-feira entre o presidente interino Michel Temer e cerca de 100 empresários da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Temer e Braga de Andrade, presidente da entidade, concordaram em adotar “mudanças duras” tanto na Previdência Social quanto nas leis trabalhistas.
Uma das “mudanças duras” discutidas pelos dois filhos das respectivas mães diz respeito à jornada de trabalho dos brasileiros. O presidente da CNI sugeriu que o Brasil adote iniciativas similares às que teriam sido adotadas pelo governo francês, que, sem aval do Parlamento, teria conseguido aprovar jornada laboral de até 80 horas semanais e/ou 12 horas diárias.
Abaixo, a pregação textual de Braga de Andrade, da CNI. Vale informar que antes de jogar a bomba na praça, o presidente daquela entidade empresarial discutiu o assunto com o presidente interino da República.
“Vimos agora o governo francês, sem enviar ao Congresso Nacional, tomar decisões com relação às questões trabalhistas. No Brasil, temos 44 horas de trabalho semanal. As centrais sindicais tentam passar esse número para 40. A França, que tem 36 passou, para a possibilidade de até 80 horas de trabalho semanal e até 12 horas diárias de trabalho. A razão disso é muito simples. A França perdeu a competitividade de sua indústria com relação aos demais países da Europa. Agora, está revertendo e revendo suas medidas, para criar competitividade. O mundo é assim e temos de estar aberto para fazer essas mudanças. Ficamos ansiosos para que essas mudanças sejam apresentadas no menor tempo possível”.

A proposta caiu como uma bomba, na sexta-feira. Como sempre ocorre nas redes sociais, a loucura proposta pelos dois “presidentes” (da CNI e da República) acabou virando piada, já que não havia meio de discutir seriamente o verdadeiro genocídio social que está em gestação.

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