segunda-feira, 20 de junho de 2011

PENSEM NAS CRIANÇAS: elas serão nosso futuro.


Mais um dia amanhece. E a cada amanhecer nos lares principalmente das nossas famílias pobres, recebemos o anúncio do nascimento de mais uma criança, que se juntarão as tantas outras mantidas pela “bolsa família” e que brevemente estará nas ruas esmolando ou se drogando por falta de políticas públicas que a amparem e dê condições a estas famílias de oferecer uma vida mais digna. Em lugar de mais uma criança que nasce, trazendo dentro de si o anúncio de uma nova vida em seu contínuo recomeço, será talvez mais um problema social que se avizinha.
Segundo a cultura de alguns povos indígenas o nascimento serve para antecipar o futuro e é através do nascimento que as divindades se manifestam dando a acreditar que a existência humana vale à pena. Diante de tal ensinamento de povos que nós “racionais” os consideramos inferiores deveriam estabelecer como meta que acolher as crianças, oferecer-lhes as condições mínimas para que sejam felizes e que lhes sejam dadas condições para que possam permanecer entre nós. Deveria ser uma preocupação que todos deveriam se incumbir de atender, concretizando em práticas cotidianas de afeto e de atenção, de forma que se sintam inseridas na sociedade. Esta seria a contribuição que daríamos de forma que pudéssemos assegurar a continuidade e a vida na terra.
Com base nesta necessidade é que se torna urgente que todas as crianças sejam bem acolhidas e que a sua socialização seja uma responsabilidade coletiva, não apenas e unicamente da família, mas de todos, inclusive das lideranças religiosas, políticas, enfim, uma responsabilidade que deve ser repartida por toda comunidade.
Na nossa cultura o nascimento de uma criança deveria simbolizar a esperança, que, para alguns sonhadores, inclusive eu, em seus devaneios tenta projetar um mundo melhor, mais justo, mais humano, com os argumentos que este será um legado que deixará para as novas gerações.
Desta forma, acolher as crianças protegê-las e dá condições para possam ser partícipes de um conjunto de conquistas sociais deve ser os esforços a serem empreendidos por todos nós. Não adianta apenas criarmos leis, estatutos, etc., de forma que sejam reguladas as relações sociais, se não conseguirmos assegurar a criança na prática, estes direitos. E isto no Brasil tem sido muito comum.
De que adianta termos um aparato legal voltado à proteção e ao bem estar infantil, quando ao mesmo tempo observa-se que a estrutura familiar não lhe oferece condições de assegurá-los estes direitos. De que adianta o Estado criar leis que visem garantir os direitos à criança e ao adolescente, quando se verifica que as estruturas econômicas e políticas não funcionam de forma que possa garantir ao jovem que este aparato legal se concretize, cujo modelo tem como marca resguardar a atual concentração de bens e de capitais.
A situação vivida por nossos jovens ainda é mais grave, de cujas circunstâncias atualmente tem dificultado ou até mesmo inviabilizado o seu crescimento ou seu futuro. Falta da presença do Estado, que não lhes oferece uma educação de qualidade, não lhes dá condições de vida adequadas, não há assistência e proteção à saúde e, diante disto, assiste-se a proliferação de doenças, desnutrição, fome, e em decorrência e a partir do somatório de todos os problemas, observa-se o crescimento de toda espécie de violências decorrentes das relações de intolerância e de desrespeito praticados contra os nossos jovens.
Discursos bonitos se ouvem diariamente, projetos visando à proteção das crianças estão aí às mãos cheias, porém, nada ou quase nada tem saído do papel, por falta total de apoio à rede de proteção à criança. São Juizados sem estruturas, Conselhos tutelares que muitos nem veículo possuem, sem recursos financeiros e sem estrutura material e humana. São gestores públicos insensíveis à causa.
Diante disto, assistem-se diariamente nossas crianças vivendo em condições inadequadas, cujas práticas nocivas a que são levadas a praticarem já deveriam ter sido extirpado do nosso atual modelo econômico e político, inaceitável em pleno século XXI.
Neste momento devemos indagar sobre as formas e os modelos utilizados para proteger as crianças e os adolescentes nos dias de hoje,sem os aproveitadores da situação de plantão, se quisermos alcançar um lugar de destaque no futuro.
Devemos reconhecer que houve avanços significativos nos últimos anos. No entanto, apesar dos avanços são fundamentais que estejamos conscientes do quadro desolador que atinge a nossa juventude, particularmente as crianças de origem humilde, sem muitas perspectivas.
Este é um tema pouco noticiado, uma vez que é apresentada para sociedade fundamentada nas informações que são passadas pelos gabinetes atapetados de nossos gestores públicos, cujas informações tem como base o espetáculo do crescimento econômico, que é apresentado com uma bela moldura desenvolvimentista, sem que este bolo seja fatiado de forma igual, beneficiando a todos igualmente. Isto sabe que não existe, principalmente nesta economia neoliberal, onde o Estado tem que está a serviço das elites e os lucros devem ser rateados entre poucos.
Portanto, a opção da política econômica governamental, que tem privilegiado os interesses econômicos e políticos específicos, sem que se tome medidas visando restabelecer as relações com setores da sociedade menos favorecida, de forma a oferecer uma melhor distribuição da renda e gerando melhores oportunidades de emprego, reduzindo desta forma os desníveis sociais gritante em nosso País. Enquanto o governo vive a alardear a rota em direção ao crescimento e à estabilidade, assistimos a ampliação do fosso que separa aqueles considerados como dignos de viver neste “novo País que está surgindo” e aqueles destinados ao abandono e à exclusão social.
A opção pela política econômica centrada em um projeto de privilegiar as elites fez o com que o PT renegasse a sua história, o seu passado e as suas bandeiras. Não por acaso os bancos e as empreiteiras obtiveram maior lucratividade no governo Lula. E o que move esta política econômica é, exatamente, o interesse econômico das grandes empresas e grupos financeiros, muitas delas ligadas umbilicalmente a partidos políticos, através dos “financiamentos” para as campanhas eleitorais.
Deveria o Brasil aproveitar este embalo e criar as oportunidades para projetar-se como um país viável, não apenas pelo viés econômico, mas também através de investimentos em políticas sociais, sem a infeliz marca do assistencialismo. Mas estabelecer políticas sociais visando minimizar os impactos imediatos da desigualdade, viabilizando a redistribuição da riqueza ou dos bens e oferecendo oportunidades de maior equidade no acesso aos recursos.
Importante que setores da economia sejam desregulamentados, leis rígidas de fortalecimento ao meio ambiente sejam tomadas, o fortalecimento da legislação trabalhista deva ser uma meta, de forma que o trabalhador se sinta fortalecido nesta queda de braço entre trabalhoXcapital, que o boom econômico seja sentido por todos e os seus efeitos sejam alcançados pela sociedade, independente da classe social.
Enfim, tal como o nascimento, a morte também pode assumir diversos significados. Porém o que é triste e não deve ser aceito por ninguém é a morte que decorre da omissão do Estado, e esta além de não poder ser esquecida, não deve ser perdoada.
Não podemos nos calar diante do extermínio lento e gradativo que vem sendo imposto à nossas crianças, em razão da ausência do Estado, este mesmo Estado que sempre se faz presente quando se trata de defender os interesses das elites econômicas e financeiras.

3 comentários:

Rodrigo Castro disse...

Olá amigo! Compartilho de suas palavras, mas gostaria de intervir em seu título. Enquanto lia o texto, ficava em minha mente o ensinamento indígena do qual o texto faz referência: um nascimento é uma dádiva! É um presente! Penso então nas crianças não apenas como nosso futuro, mas como o nosso presente. Desta forma, os gritos que ecoam em sua dissetação mostram-se mais urgentes e cada vez mais necessários! Paulo Freire dizia que devemos empreender muitas marchas em nossas vidas, e uma das mais significativas sem dúvida é a marcha pela decência. Para que isso ocorra, devem o discurso e prática transitar por "palavra" semelhante: a docência. Não aquela do mestre propedêutico, mas sim aquela como seu texto nos mostra: a da sabedoria de ser capaz de olhar para o mundo, lê-lo e interpretá-lo de forma coerente. Que nossas palavras sejam como fermento para o bolo ou adubo para a semente. Grande abraço. Rodrigo Castro - Cotia - SP

Anônimo disse...

Ilustre amigo Francklin, suas palavras o presente texto, são de uma realidade incontestável, sem tirar e nem por mais nada. Me permita também parabenizar o Rodrigo Castro, lindo comentário.
Wagner Amenta - Barra do Piraí - RJ

Palavradesa disse...

Olá, sem dúvida sua escrita permite muitas reflexões a cerca da realidade em que vivemos. Parabéns, é importante que saibas que leio sempre com muito carinho tudo o que me enviado . Moro em Pelotas,no Rio Grande do Sul,sou professora, tenho 50 anos , estou quase me aposentando em uma carreira e ainda tenho muita sede de ler textos de pessoas inteligentes como você. Um abraço.
Helenira Brasil Dias